15/11/2013

É pizza ou não é?

Tudo bem que não foi nenhuma pizza gigante, sabor Brasília, com borda de Catupiry e refrigerante 2 litros grátis. Mas que foi bem mais que uma simples brotinho de mozzarella,
lá isso foi!

José Dirceu condenado a apenas 11 anos de cadeia e uma multinha de R$ 700 milhas pelos crimes de formação de quadrilha e corrupção ativa é pouco. Muito pouco!

José Genuíno condenado a sete anos em regime semiaberto pelos mesmos crimes é pouco, muito pouco! E então, isso é pizza
ou não é?

E tem mais, pelas leis brasileiras, Zé Dirceu terá que cumprir pena em regime fechado por haver sido condenado a mais de oito anos de cadeia. MAS... poderá mudar de regime após um ano e nove meses, quando progredirá para o regime semiaberto e, SE NÃO HOUVER VAGA NO SEMIABERTO, ele poderá ir direto para o regime aberto. Quem quer pegar uma aposta comigo que não haverá vaga no semiaberto em setembro de 2015? Tô pegando qualquer aposta e de qualquer valor, até mãe tá valendo!

Será que agora que saiu a sentença do Mensalão, aquele bando de oportunistas de Brasília vai aproveitar a deixa e botar o Genuíno e o Cunha pra correr da Comissão de Justiça ou vai continuar achincalhando o povo brasileiro?

Brasília é assim: um Brasil diferente do nosso. Lá as leis são outras, onde as “entrelinhas” têm muito mais importância que as “letras da lei”. Onde quem indica é, em princípio, inocente. Adoraria ver “embargos infringentes” ter validade no julgamento de pais de família que, no desespero, roubam um pacote de arroz no supermercado para alimentar os filhos famintos deixados em suas casas de “pau-a-pique”.

No início do julgamento do Mensalão, eu disse que tudo terminaria em pizza. Alguns amigos correram a me contradizer, na base do “agora vai!” Vai porra nenhuma! Isso é Brasil minha gente! Ou melhor, isso é Brasília!

Dos oito ministros indicados por Lula, seis ainda compõem os quadros do STF e dois outros foram indicados pela Dilma. Ou seja, dos atuais onze ministros, apenas três não têm alguma ligação ou comprometimento formal (ou moral) com o PT. O Mensalão foi um crime cometido em favor de interesses do PT, logo... dois mais dois sempre resultará quatro.

E quer saber por quê disse com tanta segurança que tudo terminaria em pizza? Por uma razãozinha muito simples: os tais interesses do PT diziam respeito à manutenção (e à facilitação) do Lula no Poder e o ex-presidente jamais foi citado por quem quer que seja! Ora, num partido que até pra comprar papel higiênico pra sede precisavam reunir as tais “plenárias” e “ouvir as bases”, deixaram o líder maior do partido de fora? Ora, façam-me um favor!

Anderson Fabiano

06/11/2013

Papo de botequim

Encontrar um bar nessas terras catarinenses, como aqueles meus do Rio, com mesinhas na calçada, chope gelado, conversa fiada e sem ambientalistas xiitas reclamando do meu cigarro já parecia uma missão difícil nesses meus primeiros quatro anos por aqui, mas encontrar um bar sem sertanejo universitário, pagode paulistano e funk, para um amante de Jazz, Blues e MPB foi como conseguir um visto no passaporte para o céu.

- Posso fumar aqui fora? Se o senhor sentar bem lá na ponta, acho que ninguém reclama – sentenciou o garçom. Perfeito! E mergulhado no chope com batatas fritas e ideias para um próximo livro, entreguei-me ao merecido ócio daquela manhã de sábado. Ninguém para jogar conversa fora, é verdade, mas uma boa solução para um carioca.

Mas o que parecia ser meu momento nirvana foi abruptamente violentado por um som estridente que partia de um Chevette bege, rebaixado, do qual emergiu um ser meio alienígena, meio símio humanizado, que parou bem em frente à minha mesa e acreditando que todos no quarteirão esperavam pela sua “boa música”, estuprou-nos os tímpanos com um maldito funk que, como lavas incandescentes, eram vomitadas de uma muralha de alto-falantes que, muito possivelmente, custavam mais que aquele arremedo de automóvel.

Com ares de quem buscava cumplicidade, cumprimentou-me e sentando-se na mesa ao lado disparou: - Incomoda? 
- Depende! – sentenciei.
- Depende do que? Inquiriu-me com um patético ar que ficava a meio caminho entre a surpresa e o aborrecimento.
- Deixa pra lá... – respondi, evasivo.

Com um clima pesado às costas, me dei conta que meu “depende” lançou um silêncio abissal entre mim e a bermuda “cofrinho” recém chegada.

Abandonava as anotações do próximo livro e começava uma contagem regressiva para dar o fora do bar tão tardiamente descoberto, quando fui uma vez mais instado: - Tio, você concorda que funk também é cultura?
- ???
- É sim tio, Cultura popular!

Vendo que não conseguiria fugir daquele papo abstrato por muito tempo, arrisquei uma resposta propositalmente pernóstica, enquanto aquela voz feminina, atordoante e esganiçada proclamava suas habilidades sexuais com os homens (...Vô fazer oitinho bem no meio do salão, vô deixa você doidinho e não vô ti dá meu rabo não...)

- Bem, entendo que Cultura, do latim colere, que significa cultivar é, desde o século XVIII, associada à civilização por se confundir com desenvolvimento, educação, bons costumes, etiqueta e comportamentos. Já a cultura popular nasceu da adaptação do homem ao ambiente onde vive e abrange inúmeras áreas de conhecimento, e sei ainda que os itens culturais que requerem grande experiência, treino ou reflexão para serem apreciados, dificilmente se tornam itens da cultura popular.
- ??? Pô, tio, pegou pesado. Num intendi nada...

Tentei outro caminho: - Já ouviu falar de Miles Davis, Otis Redding, Buddy Guy ou Moacir Santos?
- Tá me sacaneando, tio?
- Não! Apenas tentando responder o que entendo por Cultura. - Seguinte – continuei, enquanto pedia a prematura conta ao garçom – entendo funk como cultura da mesma forma que entendo como cultura popular o voto num rinoceronte para deputado estadual ou num jogador de futebol sem expressão política para federal. Funk é tão cultural quanto jogar latinha de cerveja pela janela do ônibus, Black Bloks em passeata de professores ou tirar rasante em poças d’água pra jogar lama em trabalhadores num ponto de ônibus.
- ?
- Desculpe, parceirinho, o papo tá bom mas deu minha hora. Valeu? Outro dia a gente continua esse papo de cultura popular. Mas, aí vamos falar de Mangueira, Paulinho da Viola, Heitor dos Prazeres, Zé Ramalho, Cora Coralina. Ou até mesmo da origem histórica da bunda como preferência nacional, e aí você paga o chope que eu deixei de tomar hoje. Valeu?

Fui!

Anderson Fabiano