28/09/2013

Benefício concedido

Sei que não sou muito diferente da maioria dos brasileiros, ou seja, deixo tudo pra última hora: a declaração do imposto de renda, a compra da carne na manhã do dia do churrasco, acordar às dez da matina, em plena alta temporada e reclamar quando não encontro espaço na praia. E não haveria de ser diferente com o pedido de aposentadoria. Nem sabia onde procurar os documentos necessários.

Após a enésima mudança de regra do jogo (e uns bons puxões de orelha da mulher amada) consegui, finalmente, encurralar o governo e conquistei o direito à tão sonhada aposentadoria.

É bem verdade que mesmo havendo sido dirigente de uma das mais poderosas multinacionais do mundo, diretor da maior financeira independente do país, dono de algumas empresas e até secretário municipal, só me restava a alternativa da aposentadoria por idade, já que tive que me submeter a alguns subempregos, sem contribuir para o INSS, pra não deixar a família morrer de fome.

Tudo bem! Completei os tais 65 e dei entrada no meu pedido de aposentadoria dois dias depois. Dois dias depois... E é claro que faltavam os malditos comprovantes!

Engraçado... O dinheiro é seu, você é você (sem nenhuma sombra de dúvidas), todas as suas contribuições foram (ou deveriam ter sido) devidamente registradas, mas você tem que comprovar tudo, senão...

Fila, senha, espera e lá está você sentado como um reles pedinte diante do atencioso funcionário que demonstra passo a passo como você fez tudo errado na vida e após umas duas horas de INSS, sem direito nem a um cigarrinho, sai o resultado: seu processo é registrado, mas “com exigências”.

Você corre, fala com um, com outro e só consegue comprovar uma das duas exigências, amparado na reprodução da folha do Diário Oficial. A outra, esquece. A prefeitura para qual você trabalhou está nas mãos do partido adversário e você precisa viajar 1.800 km (hoje moro num outro estado), dar entrada num processo, pagar uma taxa e aguardar pelo menos três meses para obter uma resposta que, curiosamente, está disponível em qualquer computador da secretaria de Administração. E todo esse esforço só para aumentar alguns pilas na sua aposentadoria. Esquece!

Apresento os documentos uns poucos dias depois e ouço da atendente: “É, acho que eles aceitarão a folha do DO...” Putz! Nem funcionário público está acreditando no DO! (?)

E vem a espera... um mês, dois... e nada!

A consulta no próprio órgão não funciona: preciso tentar o 135. O 135 me manda de volta pro órgão. O órgão diz que não há registros mas que o benefício já deveria ter sido concedido.

Peraí! BENEFÍCIO? CONCEDIDO? Ou esses caras não sabem falar português ou estão de sacanagem comigo! Até onde o Aurélio ou o Michaelis me amparam, benefício é favor, graça, serviço gratuito e conceder é dar, outorgar, facultar, permitir e eu não estou precisando de graça ou favor porra nenhuma! Estou apenas tentando receber de volta uma grana preta que fui forçado a entregar ao governo durante quase quarenta anos e que me foi prometido, seria devolvido quando eu parasse de trabalhar, coisa que ninguém consegue num país injusto como o nosso.

Se somarmos todo dinheiro que entreguei compulsoriamente a esse bando de incompetentes para “tomar conta”, deveria estar milionário agora. Benefício é o cacete!

Mas, nessa terra brasilis onde um partido, dito dos trabalhadores, trata trabalhador e bosta da mesma maneira, um número de telefone (135) que não informa nada com coisa nenhuma e ainda recebe o nome de Portal do Cidadão, tudo pode acontecer.

Mas, registre-se: Benefício é o cacete! Só quero minha grana de volta!

Anderson Fabiano