- Garçom, dois chopes, por favor, e umas isquinhas de peixe, com molho de mostarda! Pode ser? Obrigado.
...
Sabe filha, quanto mais esse tal de tempo me permite continuar por aqui, mais eu curto essa coisa mágica, instável, imprevisível, dinâmica e sem referências chamada vida. E, quer saber? Aquela história da “semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória” é a mais pura verdade. Ou, como dizia Caminha: Em se plantando tudo dá.
Você deu! Você se revelou uma excelente colheita.
Muita gente pensa que a velhice amolece as pessoas, mas não é verdade! A velhice nos dá a chance de deixar as fichas caírem, isso sim. Toda aquela arrogância, aquela fortaleza burra que ostentamos nas idades anteriores vão por terra e a gente, simplesmente, aprende a dizer “eu te amo”, sabendo o que está falando. Nesse sentido, ficar mais velho é um grande barato!
Hoje, quando chamo você de “minha filha” não estou empregando um adjetivo (possessivo?) e um substantivo, mas dois adjetivos. É gratificante ver essa mulher que floresceu em você. Adoro isso! rsss E, então, todo um carinho emerge de mim e lhe envolve, como um abraço único e eterno. Reconhecido, agradecido e cúmplice.
...
Você fala do “lugar da gente”... Esses lugares podem estar onde menos esperamos. Por vezes, em pontos tão distantes da nossa realidade imediata que nem nos damos conta.
Você bem sabe o quanto gosto do meu Rio: meus filhos, meus pais e irmãos, minha história, minhas vitórias e derrotas... o Vasco, a Mangueira, as praias, o chope, a irresponsável superficialidade carioca, a irreverência que se transformou numa espécie de marca registrada desse seu pai... Mas, e daí? Não sou do Rio, sou do mundo. Sou um homem livre, consciente de meus limites, direitos e deveres. E, de quebra, falo um monte de idiomas, então, porque não Paris ou Madagascar? Ou Roma ou, simplesmente Blumenau?
Sabe, filhota, o sempre e o nunca não existem. São invenções do homem. E, para desespero dos pragmáticos, dos apologistas do caos e dos chatos de plantão o talvez é o mais sábio dos roteiros para a vida.
Assim, não tenha pressa, busque o seu lugar de coração aberto, deixe sua alma escolher. Mas, esteja atenta: um rio não passa duas vezes sob a mesma ponte.
- Esse chope tá ótimo, né? Mais um?
- Garçom, mais dois chopes, por favor! Ah! E um Steinhagen... nacional!
...
Você me falando da sua empresa e eu do meu novo livro... rsss Mas, quer saber? Passam pela mesma linha de pensamento. É o nosso lado cidadão falando...
Essa coisa contemporânea, capitalista, estressante da busca permanente pelo lucro máximo é um engodo para os tolos. Ficamos tão obstinados na busca da melhor performance que esquecemos que as flores continuam nascendo, as pessoas que amamos envelhecem, que a busca da harmonia é que gera paz interior e que os beijos na boca continuam sendo os melhores prêmios.
Tudo bem que “um amor e uma cabana” ficava bem no movimento hippie dos anos sessenta, mas pensando bem, pra que uma casa de três salas e seis quartos se podemos viver bastante bem num sala e três quartos. Não somos hotel nem pousada. E depois, dá um trabalho do cacete limpar uma casa muito grande... rsss
O ensaio de que falei passa um pouco por isso. Discuto a importância da comunicação e o seu papel a serviço dos poderes constituídos. A relativização dos conceitos de verdade e mentira, a manipulação da opinião pública, a inesgotável sede de poder do “Senhor das Guerras”, a partir da análise de documentos existentes e que podem recontar histórias, como por exemplo, da queda das Torres gêmeas e a morte de bin Laden.
Papo de maluco, eu sei. Mas, algo que vai dar no que pensar. E, nem de longe, estou tentando criar mais uma nova Teoria Conspiratória. Tá tudo lá e só ler com mais atenção e não permitir que desviem nosso foco apenas para fazer de nossas empresas-patroas, a primeira colocada de seus rankings.
- Vou pedir uma rodada e a conta. Tudo bem?
Estaremos sempre aqui, filhota. Nesse bar ou aonde você precisar de seu Papy, amando você e com o coração sempre aberto.
PS: O nome do cara era Jorginho Carvoeiro. (rsss) Bola dentro pro Marcio. Tudo a ver com alguém que se conhece num show de um ex-Pink Floyd.
Papy ama você!
Anderson Fabiano
Imagem: Acervo do autor
Imagem: Acervo do autor