21/12/2012

Morri!

Confesso não entender quase nada sobre esse negócio de morrer. Até porque, graças ao providencial “Véu do esquecimento” não tenho nenhum registro confiável das minhas vidas pregressas e muito menos de como elas terminaram. Mas, considerando-se o que pude perceber até agora morrer não é muito diferente da realidade.

Despertei hoje, dia do fim do mundo segundo o calendário maia, com a nítida sensação de que as coisas estavam como sempre estiveram: saudei minha mulher com a mesma alegria, o mesmo beijo e o mesmo prazer de todas as manhãs, lavei o rosto, tomei café e fui pra varanda, onde sempre fumava a meu primeiro cigarro, deliciando-me com os pássaros que disputavam as frutas do comedouro.

As montanhas, casas e matas estavam todas no mesmo lugar. Até os ruídos eram iguais. Inclusive, o daquele Fiatzinho Uno, caindo aos pedaços, que passava por aqui com um funk pra lá de berrado: “Será que nem depois de morto essa anta vai parar de ouvir esse troço?”

Então, se morrer é isso, devo admitir que estou gostando. E digo mais: é bem diferente daquele horror que os apologistas do caos ensinaram nas Santas Escrituras: “Os vivos invejarão os mortos!”

Como fui dormir dopado acabei não percebendo se o mundo acabou por conta da colisão de um mega meteoro ou se o super vulcão das Ilhas Canárias mandou tudo pro espaço e o tal tsunami chegou às costas brasileiras com ondas de mais de cem metros de altura, como previu o Discovery. Seja como for, morri tendo bons sonhos e acordei com a nítida sensação de estar vivo. Aliás, por falar em dopado, não sei se devo ir à sessão de radioterapia de hoje à tarde... até porque se estou morto isso não vai fazer muita diferença.

Sei não, mas, pelo que pude ver até agora, das duas uma: ou morrer com o fim do mundo é uma coisa muito mais agradável do que nos ensinou a Igreja Católica ou os maias, quando faziam seu famoso calendário ficaram sem giz justo no dia 21 de dezembro de 2012.

Anderson Fabiano

Imagem: Google

24/11/2012

Capítulo IX – O culto à violência

A História dos EUA não difere muito de tantas outras, onde o sangue foi a tinta com a qual se imprimiram as páginas que contam os primeiros tempos, as conquistas e a ocupação de um território, até então virgem: as carnificinas covardemente perpetradas contra as nações indígenas, os acordos celebrados com os “selvagens” e não cumpridos pelos “homens brancos”, os duelos dos cowboys, o roubo de terras mexicanas. Entretanto, essas cores parecem colorir as bravatas ianques até os dias de hoje: os assassinatos cometidos impunemente pelos membros da Ku Klux Kan, as gangues de motociclistas, o gosto pela guerra e até as inocentes (?) corridas em circuitos ovais da NASCAR e Fórmula Indy, onde o público aguarda ansioso por colisões espetaculares. Tudo leva a alguma forma de se praticar e apreciar a violência.

Assim, quando se pensa que a antiga proposta da Operação Nothwoods, de 1962, pode haver sido praticada agora, arremetendo dois aviões comerciais teleguiados contra as torres do WTC, não é tão fácil descartar essa absurda possibilidade. Os Estados Unidos construíram essa imagem ao longo da História. Eles possuem tecnologia e desprezo pela vida alheia suficientes para cometer tamanha atrocidade.

O próprio Bin Laden pode haver sido vítima da descartabilidade com que os EUA enxergam seus parceiros. Se efetivamente morto em 1º de maio de 2011, o foi por falta de serventia. Ou porque era chegada a hora de “sair de cena”.

Afinal, o velho parceiro de Bush na Arbusto Petroleum, o ex-parceiro da CIA na preparação dos mujadihin na Guerra do Afeganistão, o ex-parceiro das Forças da OTAN (e do próprio EUA) na Bósnia, foi escalado como o inimigo externo, responsabilizado pelo atentado contra as Torres Gêmeas, e após ser caçado por dez longos anos, morto numa ruazinha do Paquistão. Ou apenas, “mandado para casa com um agradecimento de bons serviços prestados”. E isso, para o governo norte-americano, não seria novidade. Acabara de fazer o mesmo com Saddam Hussein, parceiro na guerra contra o Irã, mas um verdadeiro anti-Cristo quando seu prestígio político começou a ameaçar aos interesses geopolíticos americanos no Oriente Médio.

Mas Bin Laden pode haver sido sim esse terrorista inclemente, cruel e desumano que provocou tanta dor e prejuízos financeiros aos EUA. E, nesse caso, sua ideologia anti-americanista alcançou os resultados pretendidos.

O professor Noam Chomsky apresentou com rara maestria sua tese sobre aqueles fatos de setembro de 2001, no seu consagrado livro “9-11: Was There an Alternative?” (11 de setembro: Havia uma alternativa?).

O autor demonstra que são dois os “11 de setembro” e não apenas um: o de 1973 e o de 2001.

O primeiro, “quando os Estados Unidos culminaram com sucesso os seus esforços para derrubar o governo democrático de Salvador Allende, no Chile, com um golpe militar que levou ao poder o regime brutal do general Pinochet”.

Naquela época, a retórica da administração Nixon, era matar o “vírus” e aplicar uma política intolerável de desenvolvimento dependente dos EUA.

O primeiro 11/9, ao contrário do segundo, não mudou o mundo. Não era “nada com grandes consequências”, como garantiu Henry Kissinger ao seu chefe poucos dias depois.

Continua na página 177 do livro "Bin Laden não morreu!"

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15/06/2012

Um 12 de junho pra ninguém esquecer

12 de junho. Dia dos Namorados. Um jantarzinho romântico, à luz de velas, até que cairia bem.

Foi assim que um amigo querido resolveu comemorar a data com sua mulher. Ao invés de presentes trocados, se dariam alguns dias de merecido descanso, após três anos sem férias. E o ponto alto das comemorações seria o tal jantar.

Escolheram uma cidadezinha no litoral sul do país, reservaram um bangalô bem gostoso e entregaram-se ao merecido ócio que só é possível fora de temporada: peixinho à beira mar com espaço e sossego de sobra, fotos de todo jeito, café da manhã na varandinha, passeios que só se fazem nesse tipo de viagem e namoro, muito namoro. Tudo fora de hora e com a dose ideal de romantismo e preguiça. Afinal, estavam de férias.

Por não conheceram o local, pediram sugestões à recepcionista do hotel e souberam então, que um bistrô pra lá de charmoso estaria promovendo um jantar especial para os apaixonados de plantão. Exótico e afrodisíaco, com reservas e tudo, mesmo fora de temporada.

Combinaram sair por volta das nove e, na hora marcada, sua mulher estava lá, linda como uma atriz de Hollywood, enfiada num conjuntinho em tons de creme, cabelinho preso, uma graça.

Achar o tal endereço foi meio complicado. Era um tal de entra aqui, vira ali, que só a boa sinalização (e o gps) permitiu encontrar. E, na chegada ao estacionamento, uma primeira surpresa: o bistrô escondia-se numa ruazinha pra lá de estreita, escura, cercada de mato que roçava as janelas do carro. Umas luzinhas que lembravam o Natal identificavam timidamente o local. Entraram, desceram do carro com cara de ué e viram uma placa dizendo: "Deixe o carro aqui e siga a pé". (!?) Tudo bem.

Uns cinco ou dez metros, andando pela rua de areia e desafiando o equilíbrio dos saltos de sua mulher, outras lampadinhas natalinas identificavam a entrada. Uau! Tudo de bom! Ambiente gostoso, meio rústico, meio modernoso e muito exótico. Uns poucos casais espalhados pelo ambiente e uma gentil recepcionista (ou seria a maître?) dispara: “Boa noite. Fizeram reservas?”

A audácia de não fazer reservas deixou-lhes duas opções de mesa: uma dentro do ambiente, na passagem entre a cozinha e o salão e a outra, na parte externa, na noite fria de junho, junto à lagoa. Dos males, o menor. Optaram pela interna.

Acomodados, receberam as dicas da maître: “de entrada, temos umas tiras finas de salmão com brotos de eucalipto; como prato principal, camarão ao cacau, batatas recheadas com brie; acompanha arroz de pimenta, abacaxi e champanhe e, de sobremesa, maçãs recheadas com morango e mel”. Bem, como diz o ditado: “quem entra no fogo é pra se queimar”. Toparam. Meu amigo pediu um “Gewürztraminer” e uma água sem gás. E essas foram as últimas coisas “normais” daquela noite especial.

Meu amigo confidenciou que deveria ter ouvido suas intuições e dado o fora dali tão logo identificou o sotaque argentino da maître. Afinal, essa bronca com “los hermanos” vem de bem antes das disputas futebolísticas. É coisa que remonta ao tempo de Juan de las Heras e a Guerra Cisplatina. Ficaram.

De cara, uma cortesia da “chef”: uma espécie de sopa com gengibre, shoyu e pimenta, servida numas canequinhas de barro, remeteu sua mulher às canecas de “brodo” de sua infância e a proximidade de uma ânsia quase estraga tudo. Veio a entrada e descobriram que “finas tiras de salmão” eram, na verdade, um sashimi de salmão, coisa que a homenageada não engole nem com reza braba. Mas, “noblesse oblige”.

Resolveram fumar um cigarro no deck e relaxar da “surpresa” da entrada, enquanto esperavam o prato principal. E noites especiais pedem fotos, certo? Mas, carregar a bateria da máquina é sempre uma providência sensata, certo? Voltaram para o hotel sem fotos.

Chegou o prato principal! Outra surpresa. Camarões escafandristas, mergulhados numa calda de chocolate onde nem se podia curtir os camarões, nem o chocolate. Ou distinguir o sabor de uma coisa e outra. Um fiasco! O jeito foi fazer cara de contente, cair de boca no vinho, abreviar o “doce petisco”, pedir a conta e sumir dali.

Algumas centenas de reais mais pobres, com fome e sem saber quem devia explicações a quem, voltaram para o hotel.

Mas a noite ainda não havia acabado. Meu amigo, ultimamente, vem brigando com uma desagradabilíssima intolerância ao álcool, e tão logo o sacolejo da estradinha de chão começou, uma terrível enxaqueca roubou a cena. Aos frangalhos, decepcionado, impotente, inútil mesmo para as coisas do amor, chegou ao bangalô implorando aos céus por um potente analgésico, um colo cúmplice, silêncio, ausência total de movimentos e o mais negro dos escuros. Definitivamente, “game over”!

Na manhã seguinte, com cara de cachorros caídos de um caminhão de mudanças, combinaram: a partir daquele dia, o Dia dos Namorados seria comemorado no dias 13 de junho. E de exótico, apenas um filé com fritas num barzinho bem xulé, sem bebidas alcoólicas. E o toque afrodisíaco, deixado por conta de um bom DVD pornô. Sem sotaque argentino.

Anderson Fabiano

Imagem: Acervo do autor

18/05/2012

Comissão Nacional da Verdade

Escrevi há uns anos atrás, que o Brasil era o país do talvez. Talvez isso, talvez aquilo. E sempre me martelou a cabeça (e a alma) aquela frase, erroneamente atribuída ao De Gaulle, no episódio da Guerra das Lagostas: O Brasil não é um país sério. Pois bem, abro o jornal na quarta-feira e leio, em júbilo, que o nosso governo criou a Comissão Nacional da Verdade e pensei: Pronto! Não seremos mais o país do talvez. Seremos, finalmente, o país da Mentira ou da Verdade. E isso é bem melhor, afinal, mais vale a certeza do não que a incerteza do sim.

Mergulho na notícia e fico sabendo que serão investigadas todas as violações de direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988. Inclusive as dos Anos 60?! Maravilha! Valeu a pena esperar!

Mas minha precipitada euforia sofre as inevitáveis decepções: a Comissão tem direito de convocar vitimas e acusados, mas “os convocados podem se recusar a prestar depoimentos”... Após dois anos, a Comissão se obriga a publicar um relatório, mas “os resultados poderão ser de conhecimento público ou enviados apenas para o presidente ou ministro da Defesa”. (gulp!) E a melhor de todas as pérolas: a Comissão da Verdade “não terá poder de punir ou recomendar que acusados de violar direitos humanos sejam punidos”. Ué!? Então ela vai fazer exatamente o quê?

De imediato, minhas costas ardem na lembrança das borrachadas, meu rosto ferve ao som dos tapas e socos e tudo por que era contra o acordo MEC-USAID, a americanização de nossa cultura e pedia uma solução para o problema dos excedentes... Sinto gosto de sangue na boca.

Senhores membros da Comissão, o país só aguarda duas respostas: Onde estão os nossos filhos e irmãos e quem deu sumiço neles. Pois, não existem “desaparecidos”. Até onde se saiba, o Brasil nunca foi atacado por esquadrilhas de UFOs. Logo, ninguém foi abduzido. Se não podem responder a essas perguntas, perdoem esse velho criador de caso, mas voltem logo pra casa, pois essa comissão não passa de uma palhaçada!

Então, ninguém vai pedir desculpas a um pai e confessar, humildemente, que o corpo de seu filho está eternizado num dos pilares da ponte Rio-Niterói? Ou, que alguns peixes fisgados por aí se alimentaram de seus restos, lançados de um helicóptero ou navio? Ninguém será responsabilizado pelo estupro de sua filha? Ou pela bomba da ABI, ou da OAB? Ou pelo menos, pela queda do avião do Castelo Branco ou pelo “enforcamento” do Vlado?

...

Não vou esperar dois anos, vou ligar agora mesmo para a pizzaria. Mas, vou pedir uma de Talvez, por que a de Verdade, já sei, anda em falta.

Anderson Fabiano

Imagem: Google

25/04/2012

Num certo bar do Leblon

- Então, vamos de chope? ... Dois? Tudo bem... Tira-gosto? Escolhe aí...

- Garçom, dois chopes, por favor, e umas isquinhas de peixe, com molho de mostarda! Pode ser? Obrigado.

...

Sabe filha, quanto mais esse tal de tempo me permite continuar por aqui, mais eu curto essa coisa mágica, instável, imprevisível, dinâmica e sem referências chamada vida. E, quer saber? Aquela história da “semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória” é a mais pura verdade. Ou, como dizia Caminha: Em se plantando tudo dá.

Você deu! Você se revelou uma excelente colheita.

Muita gente pensa que a velhice amolece as pessoas, mas não é verdade! A velhice nos dá a chance de deixar as fichas caírem, isso sim. Toda aquela arrogância, aquela fortaleza burra que ostentamos nas idades anteriores vão por terra e a gente, simplesmente, aprende a dizer “eu te amo”, sabendo o que está falando. Nesse sentido, ficar mais velho é um grande barato!

Hoje, quando chamo você de “minha filha” não estou empregando um adjetivo (possessivo?) e um substantivo, mas dois adjetivos. É gratificante ver essa mulher que floresceu em você. Adoro isso! rsss E, então, todo um carinho emerge de mim e lhe envolve, como um abraço único e eterno. Reconhecido, agradecido e cúmplice.

...

Você fala do “lugar da gente”... Esses lugares podem estar onde menos esperamos. Por vezes, em pontos tão distantes da nossa realidade imediata que nem nos damos conta.

Você bem sabe o quanto gosto do meu Rio: meus filhos, meus pais e irmãos, minha história, minhas vitórias e derrotas... o Vasco, a Mangueira, as praias, o chope, a irresponsável superficialidade carioca, a irreverência que se transformou numa espécie de marca registrada desse seu pai... Mas, e daí? Não sou do Rio, sou do mundo. Sou um homem livre, consciente de meus limites, direitos e deveres. E, de quebra, falo um monte de idiomas, então, porque não Paris ou Madagascar? Ou Roma ou, simplesmente Blumenau?

Sabe, filhota, o sempre e o nunca não existem. São invenções do homem. E, para desespero dos pragmáticos, dos apologistas do caos e dos chatos de plantão o talvez é o mais sábio dos roteiros para a vida.

Assim, não tenha pressa, busque o seu lugar de coração aberto, deixe sua alma escolher. Mas, esteja atenta: um rio não passa duas vezes sob a mesma ponte. 

- Esse chope tá ótimo, né? Mais um?

- Garçom, mais dois chopes, por favor! Ah! E um Steinhagen... nacional!

...

Você me falando da sua empresa e eu do meu novo livro... rsss Mas, quer saber? Passam pela mesma linha de pensamento. É o nosso lado cidadão falando...

Essa coisa contemporânea, capitalista, estressante da busca permanente pelo lucro máximo é um engodo para os tolos. Ficamos tão obstinados na busca da melhor performance que esquecemos que as flores continuam nascendo, as pessoas que amamos envelhecem, que a busca da harmonia é que gera paz interior e que os beijos na boca continuam sendo os melhores prêmios.

Tudo bem que “um amor e uma cabana” ficava bem no movimento hippie dos anos sessenta, mas pensando bem, pra que uma casa de três salas e seis quartos se podemos viver bastante bem num sala e três quartos. Não somos hotel nem pousada. E depois, dá um trabalho do cacete limpar uma casa muito grande... rsss

O ensaio de que falei passa um pouco por isso. Discuto a importância da comunicação e o seu papel a serviço dos poderes constituídos. A relativização dos conceitos de verdade e mentira, a manipulação da opinião pública, a inesgotável sede de poder do “Senhor das Guerras”, a partir da análise de documentos existentes e que podem recontar histórias, como por exemplo, da queda das Torres gêmeas e a morte de bin Laden.

Papo de maluco, eu sei. Mas, algo que vai dar no que pensar. E, nem de longe, estou tentando criar mais uma nova Teoria Conspiratória. Tá tudo lá e só ler com mais atenção e não permitir que desviem nosso foco apenas para fazer de nossas empresas-patroas, a primeira colocada de seus rankings.

- Vou pedir uma rodada e a conta. Tudo bem?

Estaremos sempre aqui, filhota. Nesse bar ou aonde você precisar de seu Papy, amando você e com o coração sempre aberto.

PS: O nome do cara era Jorginho Carvoeiro. (rsss) Bola dentro pro Marcio. Tudo a ver com alguém que se conhece num show de um ex-Pink Floyd.

Papy ama você!

Anderson Fabiano

Imagem: Acervo do autor


04/04/2012

Soltando os cachorros

Que a classe política não quer porra nenhuma com a “Hora do Brasil”, a nação está sobeja e envergonhadamente cansada de saber. E, com os deputados, não é diferente. Eleitos para discutir projetos propostos pela União, criar ou alterar as leis existentes, além de fiscalizar todos os atos do poder Executivo, esse seleto (?) grupo de homens e mulheres é capaz de proezas inimagináveis pelo cidadão comum, tais como criar cuecas milionárias, anões que envergonhariam a mais profana e decadente Branca de Neve, ambulâncias fantasmas, pianistas e os até hoje mal explicados mensalões.

Pois bem, esses outrora nobres cidadãos recebem, mensalmente, a módica quantia de R$102,3 mil, para trabalharem (?) de terça à quinta-feira, já que as segundas e sextas são reservadas para “atendimento” aos eleitores de suas bases. E os sábados e domingos são destinados ao descanso, já que ninguém é de ferro.

A bem da verdade, o salário mesmo é de apenas R$ 12,8 mil. Ou, se preferirem, vinte vezes e meia o salário mínimo. Mas, para pessoas tão bem intencionadas, patriotas de primeira hora e que abrem mão, por vezes, da própria vida para representar os interesses do povo brasileiro, ainda são pagos (muito justamente) verbas de gabinete, verbas indenizatórias, auxílio-moradia, auxílio-paletó, auxílio-camisinha, auxílio-botequim, selos, passagens aéreas, automóveis, etc., etc. e tal.

Desnecessário dizer que há ainda uns poucos abnegados que circulam por Brasília carregando sobre os ombros o fardo de serem parlamentares, apenas para serem exceções à regra e, naturalmente, justificá-las. A esses poucos, o pedido formal de desculpas de toda a nação brasileira. Quanto aos outros, a sugestão de que permaneçam caladinhos, em suas ricas mansões, refletindo sobre um lembrete básico: como cidadãos, lhes demos o emprego e pagamos seus salários. Dessa forma, como legítimos patrões estamos, tão somente, exercendo nosso direito de reclamar dos funcionários relapsos ou ineptos.

Pois bem, contenham o riso, pois o assunto é sério! (Sério!?) Na quarta-feira passada, 28 de março, a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados aprovou um projeto (?) para discutir o destino dos cães após a separação ou divórcio de seus donos. (sic)

Mas, para ser transformada em lei, a proposta ainda precisa passar pela Comissão de Constituição e Justiça, por votação em plenário da Câmara e ainda, pelo Senado. Ah! Bom...

O substitutivo propõe que um juiz decida a posse e guarda do animal “em razão do vínculo afetivo e das condições de oferecer cuidado ao animal”. Ah! Entendi...

E diz ainda, que “a escolha será feita após a Justiça observar o ambiente no qual o animal irá viver, a disponibilidade de tempo do dono, condições de trato, sustento, grau de afinidade e afetividade, etc. e tal”. Bem, se é assim...

Em outras palavras: Senhores contribuintes, seus animais estarão, doravante, amparados por lei. Quanto a vocês, danem-se.

O que não é novidade alguma, certo?

Anderson Fabiano

Imagem: Google