11/12/2013

Baderna anunciada

As torcidas organizadas do Atlético Paranaense e do Vasco da Gama enfrentaram-se em mais uma lamentável demonstração patética de selvageria, despreparo e falta de noções básicas de cidadania e geraram, para todo o mundo, cenas da mais pura barbárie, às vésperas de uma Copa do Mundo que será realizada no Brasil no próximo ano.
Alguém disse que o confronto foi marcado numa dessas redes sociais, no caso em questão, o Facebook, que parece não servir mesmo para fins mais sérios, além do oba-oba social, vasculhar a vida dos outros e promover a superficialidade e distanciamento entre as pessoas.
Engraçado, é que mesmo com o diretor da CIA admitindo que a tal Linha do tempo é um importantíssimo instrumento de localização e repressão de cidadãos suspeitos, aqui, na terra brasilis, bandidos exibem armamentos, moças têm suas intimidades reveladas, pedólatras atraem inocentes para suas alcovas, e idiotas, marginais e drogados, disfarçados de torcedores, marcam brigas; e o aparelho policial brasileiro, que é pago para defender os cidadãos de bem, não faz nada.
Vi as cenas mostradas nas TVs (Bandeirantes, Sport TV e Globo) e não tenho nenhuma dúvida que foi a torcida Fanáticos, do time paranaense, que começou a confusão dentro da Arena Joinville e, mesmo sabendo que a Força Jovem do Vasco está longe de ser um grupo de “bons meninos seminaristas”, ficou bem claro que, no referido episódio, ela foi acuada e se defendeu da agressão.
Agora, a opinião pública se vê chocada ao saber que quatro ou cinco jovens apanharam tanto que foram parar no hospital. Alguns, inclusive, com suspeita de lesões mais sérias, comas, etc. e tal.
Pois bem, esses quatro ou cinco “anjinhos” estavam metidos numa tremenda confusão e poderiam ter sido eles que mandariam outros “anjinhos” para o hospital ou, quem sabe, para o necrotério.
Quer saber? Fodam-se. Foi pouco. Deveriam ter apanhado muito mais.
Agora, um grupo de senhores, pretensamente sérios e responsáveis, irá julgar o episódio e aplicar as devidas sanções aos dois clubes.
Então, senhores, anotem, por favor, as minhas modestas contribuições para o cumprimento correto da justiça:
1. Quem começou aquela bagunça foi a torcida do Atlético, que já estava jogando em Joinville por conta de punições anteriores que lhes tiraram o mando de campo.
2. Aquele jogo jamais poderia ser realizado em estádio tão acanhado, sem instalações e policiamento adequados a um jogo daquela magnitude: um time lutando para a classificação para a Libertadores e outro tentando fugir desesperadamente de mais um vergonhoso rebaixamento.
3. Quando o Ministério Público de Santa Catarina quiser se manifestar sobre assunto do qual não domine as peculiaridades, seria de bom tom informar-se com quem é da área, porque “determinar que a segurança devia ser particular, por se tratar de evento particular”, é uma das coisas mais estúpidas que já ouvi nessa vida.
4. A PM, com sua larga experiência em controle de conflitos, não deveria, de forma alguma, ter concordado (aceito) que a segurança interna ficasse a cargo de uma meia dúzia de “carinhas fortes”, que na hora da porrada, sumiram todos.
E mais, é pra meter a boca? Então vamos lá: o consumo escancarado de maconha e outras drogas, além da permitida e “inocente” cervejinha, corre solto nos estádios. A PM vê e não faz porra nenhuma. 
As autoridades policiais conhecem muito bem os baderneiros e marginais travestidos de torcedores que promovem essas tragédias anunciadas e não fazem, preventivamente, porra nenhuma. Agora, a tal da Justiça vai falar e naturalmente punir, no cumprimento da lei, entidades centenárias, voltadas unicamente para a prática do esporte, como Vasco da Gama e Atlético Paranaense e, por extensão, milhares de torcedores que nessas horas, apenas correm apavorados buscando lugares mais seguros para suas mulheres, namoradas e filhos. 
E aí, como quase sempre acontece nesse país, os inocentes vão pagar a conta pelos verdadeiros culpados. Triste país do mensalão.
Anderson Fabiano
Imagem: O Globo

15/11/2013

É pizza ou não é?

Tudo bem que não foi nenhuma pizza gigante, sabor Brasília, com borda de Catupiry e refrigerante 2 litros grátis. Mas que foi bem mais que uma simples brotinho de mozzarella,
lá isso foi!

José Dirceu condenado a apenas 11 anos de cadeia e uma multinha de R$ 700 milhas pelos crimes de formação de quadrilha e corrupção ativa é pouco. Muito pouco!

José Genuíno condenado a sete anos em regime semiaberto pelos mesmos crimes é pouco, muito pouco! E então, isso é pizza
ou não é?

E tem mais, pelas leis brasileiras, Zé Dirceu terá que cumprir pena em regime fechado por haver sido condenado a mais de oito anos de cadeia. MAS... poderá mudar de regime após um ano e nove meses, quando progredirá para o regime semiaberto e, SE NÃO HOUVER VAGA NO SEMIABERTO, ele poderá ir direto para o regime aberto. Quem quer pegar uma aposta comigo que não haverá vaga no semiaberto em setembro de 2015? Tô pegando qualquer aposta e de qualquer valor, até mãe tá valendo!

Será que agora que saiu a sentença do Mensalão, aquele bando de oportunistas de Brasília vai aproveitar a deixa e botar o Genuíno e o Cunha pra correr da Comissão de Justiça ou vai continuar achincalhando o povo brasileiro?

Brasília é assim: um Brasil diferente do nosso. Lá as leis são outras, onde as “entrelinhas” têm muito mais importância que as “letras da lei”. Onde quem indica é, em princípio, inocente. Adoraria ver “embargos infringentes” ter validade no julgamento de pais de família que, no desespero, roubam um pacote de arroz no supermercado para alimentar os filhos famintos deixados em suas casas de “pau-a-pique”.

No início do julgamento do Mensalão, eu disse que tudo terminaria em pizza. Alguns amigos correram a me contradizer, na base do “agora vai!” Vai porra nenhuma! Isso é Brasil minha gente! Ou melhor, isso é Brasília!

Dos oito ministros indicados por Lula, seis ainda compõem os quadros do STF e dois outros foram indicados pela Dilma. Ou seja, dos atuais onze ministros, apenas três não têm alguma ligação ou comprometimento formal (ou moral) com o PT. O Mensalão foi um crime cometido em favor de interesses do PT, logo... dois mais dois sempre resultará quatro.

E quer saber por quê disse com tanta segurança que tudo terminaria em pizza? Por uma razãozinha muito simples: os tais interesses do PT diziam respeito à manutenção (e à facilitação) do Lula no Poder e o ex-presidente jamais foi citado por quem quer que seja! Ora, num partido que até pra comprar papel higiênico pra sede precisavam reunir as tais “plenárias” e “ouvir as bases”, deixaram o líder maior do partido de fora? Ora, façam-me um favor!

Anderson Fabiano

06/11/2013

Papo de botequim

Encontrar um bar nessas terras catarinenses, como aqueles meus do Rio, com mesinhas na calçada, chope gelado, conversa fiada e sem ambientalistas xiitas reclamando do meu cigarro já parecia uma missão difícil nesses meus primeiros quatro anos por aqui, mas encontrar um bar sem sertanejo universitário, pagode paulistano e funk, para um amante de Jazz, Blues e MPB foi como conseguir um visto no passaporte para o céu.

- Posso fumar aqui fora? Se o senhor sentar bem lá na ponta, acho que ninguém reclama – sentenciou o garçom. Perfeito! E mergulhado no chope com batatas fritas e ideias para um próximo livro, entreguei-me ao merecido ócio daquela manhã de sábado. Ninguém para jogar conversa fora, é verdade, mas uma boa solução para um carioca.

Mas o que parecia ser meu momento nirvana foi abruptamente violentado por um som estridente que partia de um Chevette bege, rebaixado, do qual emergiu um ser meio alienígena, meio símio humanizado, que parou bem em frente à minha mesa e acreditando que todos no quarteirão esperavam pela sua “boa música”, estuprou-nos os tímpanos com um maldito funk que, como lavas incandescentes, eram vomitadas de uma muralha de alto-falantes que, muito possivelmente, custavam mais que aquele arremedo de automóvel.

Com ares de quem buscava cumplicidade, cumprimentou-me e sentando-se na mesa ao lado disparou: - Incomoda? 
- Depende! – sentenciei.
- Depende do que? Inquiriu-me com um patético ar que ficava a meio caminho entre a surpresa e o aborrecimento.
- Deixa pra lá... – respondi, evasivo.

Com um clima pesado às costas, me dei conta que meu “depende” lançou um silêncio abissal entre mim e a bermuda “cofrinho” recém chegada.

Abandonava as anotações do próximo livro e começava uma contagem regressiva para dar o fora do bar tão tardiamente descoberto, quando fui uma vez mais instado: - Tio, você concorda que funk também é cultura?
- ???
- É sim tio, Cultura popular!

Vendo que não conseguiria fugir daquele papo abstrato por muito tempo, arrisquei uma resposta propositalmente pernóstica, enquanto aquela voz feminina, atordoante e esganiçada proclamava suas habilidades sexuais com os homens (...Vô fazer oitinho bem no meio do salão, vô deixa você doidinho e não vô ti dá meu rabo não...)

- Bem, entendo que Cultura, do latim colere, que significa cultivar é, desde o século XVIII, associada à civilização por se confundir com desenvolvimento, educação, bons costumes, etiqueta e comportamentos. Já a cultura popular nasceu da adaptação do homem ao ambiente onde vive e abrange inúmeras áreas de conhecimento, e sei ainda que os itens culturais que requerem grande experiência, treino ou reflexão para serem apreciados, dificilmente se tornam itens da cultura popular.
- ??? Pô, tio, pegou pesado. Num intendi nada...

Tentei outro caminho: - Já ouviu falar de Miles Davis, Otis Redding, Buddy Guy ou Moacir Santos?
- Tá me sacaneando, tio?
- Não! Apenas tentando responder o que entendo por Cultura. - Seguinte – continuei, enquanto pedia a prematura conta ao garçom – entendo funk como cultura da mesma forma que entendo como cultura popular o voto num rinoceronte para deputado estadual ou num jogador de futebol sem expressão política para federal. Funk é tão cultural quanto jogar latinha de cerveja pela janela do ônibus, Black Bloks em passeata de professores ou tirar rasante em poças d’água pra jogar lama em trabalhadores num ponto de ônibus.
- ?
- Desculpe, parceirinho, o papo tá bom mas deu minha hora. Valeu? Outro dia a gente continua esse papo de cultura popular. Mas, aí vamos falar de Mangueira, Paulinho da Viola, Heitor dos Prazeres, Zé Ramalho, Cora Coralina. Ou até mesmo da origem histórica da bunda como preferência nacional, e aí você paga o chope que eu deixei de tomar hoje. Valeu?

Fui!

Anderson Fabiano


28/09/2013

Benefício concedido

Sei que não sou muito diferente da maioria dos brasileiros, ou seja, deixo tudo pra última hora: a declaração do imposto de renda, a compra da carne na manhã do dia do churrasco, acordar às dez da matina, em plena alta temporada e reclamar quando não encontro espaço na praia. E não haveria de ser diferente com o pedido de aposentadoria. Nem sabia onde procurar os documentos necessários.

Após a enésima mudança de regra do jogo (e uns bons puxões de orelha da mulher amada) consegui, finalmente, encurralar o governo e conquistei o direito à tão sonhada aposentadoria.

É bem verdade que mesmo havendo sido dirigente de uma das mais poderosas multinacionais do mundo, diretor da maior financeira independente do país, dono de algumas empresas e até secretário municipal, só me restava a alternativa da aposentadoria por idade, já que tive que me submeter a alguns subempregos, sem contribuir para o INSS, pra não deixar a família morrer de fome.

Tudo bem! Completei os tais 65 e dei entrada no meu pedido de aposentadoria dois dias depois. Dois dias depois... E é claro que faltavam os malditos comprovantes!

Engraçado... O dinheiro é seu, você é você (sem nenhuma sombra de dúvidas), todas as suas contribuições foram (ou deveriam ter sido) devidamente registradas, mas você tem que comprovar tudo, senão...

Fila, senha, espera e lá está você sentado como um reles pedinte diante do atencioso funcionário que demonstra passo a passo como você fez tudo errado na vida e após umas duas horas de INSS, sem direito nem a um cigarrinho, sai o resultado: seu processo é registrado, mas “com exigências”.

Você corre, fala com um, com outro e só consegue comprovar uma das duas exigências, amparado na reprodução da folha do Diário Oficial. A outra, esquece. A prefeitura para qual você trabalhou está nas mãos do partido adversário e você precisa viajar 1.800 km (hoje moro num outro estado), dar entrada num processo, pagar uma taxa e aguardar pelo menos três meses para obter uma resposta que, curiosamente, está disponível em qualquer computador da secretaria de Administração. E todo esse esforço só para aumentar alguns pilas na sua aposentadoria. Esquece!

Apresento os documentos uns poucos dias depois e ouço da atendente: “É, acho que eles aceitarão a folha do DO...” Putz! Nem funcionário público está acreditando no DO! (?)

E vem a espera... um mês, dois... e nada!

A consulta no próprio órgão não funciona: preciso tentar o 135. O 135 me manda de volta pro órgão. O órgão diz que não há registros mas que o benefício já deveria ter sido concedido.

Peraí! BENEFÍCIO? CONCEDIDO? Ou esses caras não sabem falar português ou estão de sacanagem comigo! Até onde o Aurélio ou o Michaelis me amparam, benefício é favor, graça, serviço gratuito e conceder é dar, outorgar, facultar, permitir e eu não estou precisando de graça ou favor porra nenhuma! Estou apenas tentando receber de volta uma grana preta que fui forçado a entregar ao governo durante quase quarenta anos e que me foi prometido, seria devolvido quando eu parasse de trabalhar, coisa que ninguém consegue num país injusto como o nosso.

Se somarmos todo dinheiro que entreguei compulsoriamente a esse bando de incompetentes para “tomar conta”, deveria estar milionário agora. Benefício é o cacete!

Mas, nessa terra brasilis onde um partido, dito dos trabalhadores, trata trabalhador e bosta da mesma maneira, um número de telefone (135) que não informa nada com coisa nenhuma e ainda recebe o nome de Portal do Cidadão, tudo pode acontecer.

Mas, registre-se: Benefício é o cacete! Só quero minha grana de volta!

Anderson Fabiano


08/01/2013

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Primeiro, foram os diplomas: todo mundo dizia que eu tinha que “ser dotô”, que sem diplomas não seria ninguém na vida. Hoje, tenho tantos diplomas que poderia acarpetar as paredes do meu escritório. Tenho até diploma de bordado em ponto de cruz.

Depois foi o inglês: “sem inglês ninguém chega a lugar algum”. E lá fui eu deixar meu rico francês de lado para aprender a língua dos louros meninos do norte. Quando pensei que estava pronto para ser sucesso, surgiu a informática: “sem um sólido conhecimento de computadores o homem nem se mexe mais”. Bem, se trocar datilografia por digitação e saber salvar um arquivo é “sólido conhecimento”, estou salvo. O resto é CtrlC, CtrlV!

Aí, já resignado com minha condição de sub cidadão, já que sou fumante e o mundo pertence apenas aos xiitas ecológicos não fumantes, me aparece um tal de Facebook. Ou, simplesmente Face, para os íntimos. Deus de Israel, o que é isso?

Facebook é uma poderosa ferramenta moderna que o secretário de Estado, Leon Panetta, ex-diretor da CIA, reputa como um dos mais eficientes instrumentos para localizar pessoas. Mas não sou nem besta de querer entrar no mérito dessa questão, pois com toda certeza, a esmagadora (ou seria esmagada) maioria dos usuários do Face não faz a menor ideia de para que serve a linha do tempo.

Pois bem, aqui estou eu, perseguindo o sucesso, cadastrado no Face, livre do ostracismo e com quase 400 amigos. 400 AMIGOS!? Putz, ninguém na face da terra tem 400 amigos!

O Face me abriu as portas de um novo mundo de conhecimentos. Hoje sei, por exemplo, que o sucesso de um homem se mede pelo número de “curtir” e “compartilhar” em suas postagens. Fantástico! E “curtir”, para quem não sabe, é a coisa mais preguiçosa, cínica e hipócrita que poderia existir. Seguinte: como no Face o que vale é ter uma porrada de amigos e ninguém tem tempo de escrever coisas sinceras para todos, basta esperar que o cara poste alguma coisa e quando você receber o aviso, vai na página do seu “amigo” e aperta a tecla “curtir”. Pronto! Garantiu a sobrevivência de uma amizade.

Bacana, né? Na prática, o “curtir” funciona assim: se você está próximo dos “amigos”, comemorando, brincando, se divertindo junto, eles vêm na sua página e deixam um comentário. Caso contrário você cai na categoria “quem não é visto não é lembrado” e ganha apenas um “curtir”. Mas, puxa, se você precisa ser visto para ser lembrado, você é literalmente um ninguém!

Sei não, acho que vou sair do Face e continuar curtindo o velho, sincero e confiável modelito de amizade.

Anderson Fabiano

Imagem: Google