08/01/2013

Curtir

Primeiro, foram os diplomas: todo mundo dizia que eu tinha que “ser dotô”, que sem diplomas não seria ninguém na vida. Hoje, tenho tantos diplomas que poderia acarpetar as paredes do meu escritório. Tenho até diploma de bordado em ponto de cruz.

Depois foi o inglês: “sem inglês ninguém chega a lugar algum”. E lá fui eu deixar meu rico francês de lado para aprender a língua dos louros meninos do norte. Quando pensei que estava pronto para ser sucesso, surgiu a informática: “sem um sólido conhecimento de computadores o homem nem se mexe mais”. Bem, se trocar datilografia por digitação e saber salvar um arquivo é “sólido conhecimento”, estou salvo. O resto é CtrlC, CtrlV!

Aí, já resignado com minha condição de sub cidadão, já que sou fumante e o mundo pertence apenas aos xiitas ecológicos não fumantes, me aparece um tal de Facebook. Ou, simplesmente Face, para os íntimos. Deus de Israel, o que é isso?

Facebook é uma poderosa ferramenta moderna que o secretário de Estado, Leon Panetta, ex-diretor da CIA, reputa como um dos mais eficientes instrumentos para localizar pessoas. Mas não sou nem besta de querer entrar no mérito dessa questão, pois com toda certeza, a esmagadora (ou seria esmagada) maioria dos usuários do Face não faz a menor ideia de para que serve a linha do tempo.

Pois bem, aqui estou eu, perseguindo o sucesso, cadastrado no Face, livre do ostracismo e com quase 400 amigos. 400 AMIGOS!? Putz, ninguém na face da terra tem 400 amigos!

O Face me abriu as portas de um novo mundo de conhecimentos. Hoje sei, por exemplo, que o sucesso de um homem se mede pelo número de “curtir” e “compartilhar” em suas postagens. Fantástico! E “curtir”, para quem não sabe, é a coisa mais preguiçosa, cínica e hipócrita que poderia existir. Seguinte: como no Face o que vale é ter uma porrada de amigos e ninguém tem tempo de escrever coisas sinceras para todos, basta esperar que o cara poste alguma coisa e quando você receber o aviso, vai na página do seu “amigo” e aperta a tecla “curtir”. Pronto! Garantiu a sobrevivência de uma amizade.

Bacana, né? Na prática, o “curtir” funciona assim: se você está próximo dos “amigos”, comemorando, brincando, se divertindo junto, eles vêm na sua página e deixam um comentário. Caso contrário você cai na categoria “quem não é visto não é lembrado” e ganha apenas um “curtir”. Mas, puxa, se você precisa ser visto para ser lembrado, você é literalmente um ninguém!

Sei não, acho que vou sair do Face e continuar curtindo o velho, sincero e confiável modelito de amizade.

Anderson Fabiano

Imagem: Google